Na angústia não acontece nenhuma destruição de todo o ente em si, mas tampouco realizamos nós uma negação do ente na totalidade para, somente então, atingirmos o nada. Por mais que não consideremos o fato de que é alheio à angústia enquanto tal a formulação expressa de uma enunciação negativa, mesmo [114] com uma tal negação que deveria ter por resultado o nada nós chegaríamos sempre tarde demais. Já antes disto o nada nos visita. Dizíamos que nos visitava justamente com o ente que se evade na totalidade.
Na angústia reside um retroceder diante de... que, sem dúvida, não é mais nenhuma fuga, mas uma quietude fascinada. Esse retroceder diante de... recebe o seu impulso inicial do nada. Esse não atrai para si, mas se caracteriza fundamentalmente pela rejeição. Tal rejeição que afasta de si é, porém, enquanto tal, um remeter que deixa o ente desvanecente se evadir na totalidade. Essa remissão14 que rejeita na totalidade, uma remissão ao ente que se evade na totalidade, é o modo de o nada assediar na angústia o ser-aí — é a essência do nada: a nadificação. Ela não é nem uma destruição do ente, nem se origina de uma negação. A nadificação também não se deixa compensar com a destruição e a negação. O próprio nada nadifica15.
O nadificar do nada não é um episódio casual, mas, como remissão (que rejeita) ao ente na totalidade que se evade, ele torna manifesto esse ente em sua plena, até então oculta, estranheza como o pura e simplesmente outro — em face do nada.
Somente na clara noite do nada da angústia surge a abertura originária do ente enquanto tal: o fato de que o ente é — e não nada. Mas esse “e não nada”, acrescentado em nosso discurso, não é uma explicação tardia e secundária, mas a
14. 5a edição de 1949: re-jeitar: o ente por si; re-meter: ao ser do ente.
15. 5a edição de 1949: se essencializa como nadificar, dura, outorga o nada.