§ 1. A necessidade de uma expressa repetição da pergunta pelo ser
[2] Essa pergunta está hoje esquecida, apesar de nossa época ter na conta de um progresso a reafirmação da “metafísica”. Entretanto, nosso tempo se tem por dispensado de empreender os esforços para desencadear uma γιγαντομαχία περὶ τῆς οὐσίας. E, no entanto, a referida pergunta não é uma questão qualquer: deu o que fazer à interrogação de Platão e de Aristóteles, embora na verdade se tenha calado desde então — como pergunta temática de uma investigação efetivamente real. O que ambos conquistaram resistiu ao preço de muitos desvios e “retoques” ate a Lógica de Hegel. Aquilo que de modo fragmentário e numa primeira investida foi um dia arrancado dos fenômenos pelo supremo esforço do pensamento de há muito se trivializou.
E não apenas isso. Sobre a base dos pontos-de-partida gregos da interpretação do ser construiu-se um dogma que não só declara supérflua a pergunta pelo sentido de ser, mas além disso sanciona sua omissão. Diz-se: “ser” é o conceito mais universal e o mais vazio e, como tal, resiste a toda tentativa de definição. Mas esse que dentre os conceitos é o mais universal e, portanto, indefinível, não requer também definição, pois cada um de nós o emprega constantemente e cada vez já entende o que visa com ele. Assim, o que movia e como algo oculto mantinha na inquietação o filosofar antigo passou a ser claro como o sol, um-poder-ser-entendido-por-si-mesmo,
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