SER E TEMPO

fenomenologicamente relevante. A tarefa prévia para obter uma segurança “fenomenológica” do ente exemplar como ponto-de-partida para a analítica propriamente dita já está sempre previamente delineada a partir da meta dessa analítica.

Tomada em seu conteúdo-de-coisa, a fenomenologia é a ciência do ser do ente — ontologia. Na elucidação das tarefas da ontologia surgiu a necessidade de uma ontologia fundamental, cujo tema é o ente ôntico-ontologicamente assinalado, o Dasein, e isso de tal maneira que ela se ponha ante o problema cardeal, a saber, ante a pergunta pelo sentido de ser em gerala. Da investigação ela mesma resultará que o sentido metódico da descrição fenomenológica é interpretação. O λόγος da fenomenologia do Dasein tem o caráter do ἑρμηνεύειν, pelo qual se anunciam ao entendimento-do-ser inerente ao Dasein ele mesmo o sentido de ser próprio e as estruturas-fundamentais do seu próprio ser. A fenomenologia do Dasein é uma hermenêutica na significação originária da palavra, que designa a tarefa da interpretação. Agora, na medida em que pela descoberta do sentido-do-ser e das estruturas-fundamentais do Dasein em geral se põe à mostra o horizonte para toda outra pesquisa ontológica do ente não-conforme ao Dasein, essa hermenêutica se torna ao mesmo tempo “Hermenêutica”, no sentido da elaboração das condições da possibilidade de toda investigação ontológica. E, finalmente, na medida em que o Dasein tem precedência ontológica em relação a todo ente — como ente sendo na possibilidade da existência, [38] a hermenêutica, como interpretação do ser do Dasein, recebe um terceiro sentido específico — o qual, filosoficamente entendido, é o sentido primário — o sentido de uma analítica da existenciariedade da existência. Nessa hermenêutica, pois, na medida em que elabora ontologicamente a historicidade do Dasein


a Ser — não gênero, não o ser para o ente em geral; o “überhaupt” = καθόλου = no todo de: ser do ente; sentido da diferença.


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Martin Heidegger (GA 2) Ser e Tempo (Castilho)