SER E TEMPO

e dela se assegure. O sinal não é [80] uma coisa que esteja em relação mostrativa com uma outra coisa, mas um instrumento que põe em relevo expressamente no ver-ao-redor um todo instrumental de maneira que se anuncia ao mesmo tempo a conformidade-a-mundo do utilizável. No sinal indicativo e no sinal prospectivo “se mostra” “algo por ocorrer”, mas não no sentido de algo que só ocorrerá sobrevindo ao já subsistente; “aquilo por ocorrer” é algo para o qual já estamos preparados, ou não, porque nos ocupávamos com outra coisa. Pelo vestígio o que ocorreu ou o que findou se torna acessível ao ver-ao-redor. A insígnia mostra “aquilo de que se trata” cada vez. Os sinais mostram sempre em sentido primário, aquilo “em que se vive”, aquilo em que a ocupação se detém, o que costuma ocorrer.

O peculiar caráter-de-instrumento do sinal se torna ainda mais particulairmente claro na “instituição-do-sinal”. Ela se efetua dentro de e a partir de uma precaução do ver-ao-redor, o qual necessita da utilizável possibilidade de deixar que o tempo todo o respectivo mundo-ambiente se lhe anuncie por um utilizável. Mas pertence ao ser do-imediato utilizável do-interior-do- mundo a característica já descrita de se manter em si mesmo e não sobressair. Daí que o trato que vê-ao-redor no mundo-ambiente necessite de um instrumento utilizável que, em seu caráter de instrumento, assuma a “obra” de tornar o utilizável surpreendente. Por isso, a produção de tal instrumento (os sinais) deve ser considerada em relação a sua aptidão para surpreender. Mas mesmo sendo assim surpreendentes, não são deixados subsistir de maneira qualquer, mas ficam “dispostos” de um modo determinado a fim de facilitar o seu acesso.

Mas a instituição-do-sinal não deve se efetuar necessariamente para que se produza em geral um instrumento que ainda não é utilizável. O sinal surge também quando se toma como sinal algo que já é utilizável. Neste modus, a instituição-do-sinal manifesta um sentido ainda mais originário. O mostrar não se restringe somente a fazer que um todo instrumental de utilizáveis e o mundo-ambiente em geral fiquem disponíveis para o ver-ao-redor orientado;


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Martin Heidegger (GA 2) Ser e Tempo (Castilho)