SER E TEMPO

abertura. Por meio dela esse ente (o Dasein) é para ele mesmo “aí”, unido com o ser-“aí” de mundo.

O discurso ôntico figurado do lumen naturale no homem [133] não significa nada mais do que a estrutura ontológico-existenciária desse ente, que é no modo de ser seu “aí”. Ele é “iluminado” significando: como ser-no-mundo ele é em si mesmo iluminado"1, não por receber a luz de um outro ente, mas porque ele mesmo éb claridade da clareira. Só a um ente existenciariamente assim aclarado pode o subsistente aceder à luz ou se ocultar no escuro. O Dasein traz consigo de casa o seu “aí”; e privado dele não só não seria factualmente, mas não poderia ser em geral o ente dessa essência. O Dasein éc sua abertura.

A constituição desse ser deve ser posta em relevo. Mas na medida em que a essência desse ente é a existência, a proposição existenciária “o Dasein é sua abertura” significa ao mesmo tempo: o ser que para esse ente está em jogo em seu ser é ter de ser seu “aí”. Afora a caracterização primária do ser da abertura é necessário, consoante a tendência da análise, interpretar o modo- de-ser em que esse ente é cotidianamente seu “aí”.

O capítulo que assume a explicação do ser-em como tal, isto é, do ser do “aí”, divide-se em duas partes: A. Constituição existenciária do “aí”. B. O ser cotidiano do “aí” e o decair do Dasein.

Os dois modos, de igual originariedade, ambos constitutivos de ser o “aí”, nós os vemos no encontrar-se e no entender, sua análise recebe cada vez uma necessária confirmação fenomênica pela interpretação de um modus concreto e importante para a problemática vindoura. O encontrar-se e o entender são determinados com igual originariedade pelo discurso.


a Ἀλήθεια — abertura — clareira, luz, iluminar.

b mas não produz.

c O Dasein existe e somente ele; dessa maneira, existência é estar fora, ir para fora e estar na abertura do “aí”: ek-sistencia.


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Martin Heidegger (GA 2) Ser e Tempo (Castilho)